sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Carta Aberta aos artistas de São Luis da CIA TEATRALIZANDO

Carta Aberta do Diretor Milton Andrade aos seus atores da CIA TEATRALIZANDO
 Como fazer os atores compreenderem que daqui a poucas horas estarão sobre o palco, irremediavelmente sozinhos? Como fazê-los sentir que tudo que discutimos, planejamos, estudamos, repetimos à exaustão, burilamos, adoramos e detestamos… não tem mais a menor importância? O Teatro não é um dever de casa. Não basta responder certo às questões, a escolha não é múltipla. Como fazê-los entender que estar em cena tem de ser, em todas as representações ou ensaios, um ATO DE VIDA? Um dos mais interessantes atos de vida que o homem jamais engendrou?… A escolha é uma só: estar em cena generosamente. Inteiramente. Que o Teatro é para a platéia, para aqueles seres mortais que vão estar ali – mas, que ainda isso é secundário! Porque ainda antes é um ato de vida, vida em meio à “solidão magnífica” como Freud chamou. Existe uma solidão que não é triste, não é má, embora seja sofrida, posto que é solidão. Existe uma solidão que contém a humanidade. Por isso é magnífica.. É dentro da agradável neblina deste tipo de solidão que o ator, humilde herói, move-se. Nada é mais fácil no Teatro que esquecer o que é o Teatro. Trata-se de representar. De estar presente outra vez. Presente, outra vez, em lugares onde, na verdade,  nunca estivemos, porque é a vida de outros, dos personagens que iremos viver. Nada é mais complexo que o óbvio que, neste caso, é o exercício da fantasia. Fazer Teatro  é como brincar de roda; as crianças sabem fazer teatro! É acreditar na fantasia ao limite da realidade, sem transpô-lo, porque isto seria enlouquecer. Pobre do ator que tem sua recompensa no agrado ou desagrado da platéia! Há muitas outras coisas na vida assim. Imaginem se um pai pode gostar de um filho, ou um homem amar uma mulher, tendo como recompensa o que isto causa na platéia… Pobre do ator que julgando ser o Teatro uma técnica, não acredita que é verdade aquilo que representa… Pobre do ator que não se estima. Que não acha deslumbrando sua visão de mundo.. A auto-estima é o sentimento do ator. A auto-estima nada tem a ver com a vaidade ou com o orgulho – não! Isto são mal entendidos da moral cristã. A auto-estima tem, sim, a ver com uma consciência profunda da própria utilidade dentro do mundo. A vida é um mistério. Este fato encarado e levado ao nível da ação quando fazemos Teatro. Atores são Artistas. E artistas são príncipes, guerreiros do Belo, militantes das forças que criam contra aquelas que destroem. Pobre do ator que não acha belo o que ele faz! Porque é belo o que ele faz!

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